EM CRISTO SOMOS SEMENTES DE PAZ E DE ESPERANÇA:
Convite para uma vivência fecunda do Tempo da Criação
O Papa Francisco, de saudosa memória, publicou em 2015 a encíclica Laudato Si, na qual levanta sua voz contra os males que se comentem contra a Casa Comum. A partir daquele ano, fruto de uma parceria ecumênica, nasce o projeto denominado Tempo da Criação. No qual os cristãos são chamados a refletir sobre o respeito e o cuidado que se deve ter para com toda a criação; são convidados, ainda, neste tempo a rezar nesta intenção, reconhecendo que a criação é dom de Deus e que deve ser preservada. O Tempo da Criação se estende do dia primeiro de setembro até o dia quatro de outubro. Primeiro de setembro é o dia mundial de oração pelo cuidado da Criação, celebrado entre os católicos deste 2015, mas entre os cristãos ortodoxos já era celebrado desde a década de oitenta. O encerramento, ou seja, quatro de outubro, se dá na memória de São Francisco de Assis, padroeira da ecologia e autor do canto das criaturas, que dá nome à encíclica do Papa Francisco.
Neste ano, para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, o Papa Leão XIV escreveu uma mensagem na qual afirma que “em Cristo, somos sementes. Não só isso, mas ‘sementes de Paz e Esperança”. A mensagem do Santo Padre ancora-se na experiência do Jubileu. Vale, por isso, lembrar-se do apelo em favor da esperança, apresentado na Bula de Proclamação do Ano Santo, que é reconhecer que há uma dívida ecológica “ligada a desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e com o uso desproporcionado dos recursos naturais efetuado historicamente por alguns países” (cf. n. 16). Também no número 4 da Bula é lembrado que não somos mais capazes de admirar a criação, já não esperamos a alternância das estações, não observamos a vida dos animais e os ciclos de desenvolvimento, e, que devemos ter um olhar simples, como o de São Francisco (cf. n. 4),um olhar capaz de louvar a Deus pela criação, sentindo-se parte dela, parte de uma grande família; e não um olhar de cobiça e utilitarismo, que vê os dons da terra com um olhar de mercado.
O Jubileu lembra-nos de que nossa vida é peregrinação, que caminhamos ao encontro do Senhor, mas é preciso pensar naqueles que virão depois de nós, todos são chamados a contemplar a beleza da Criação, experimentar a bondade e os dons de Deus contidos na Casa Comum. Ao terminar sua Criação, Deus “viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31). Somos responsáveis pelo cuidado da Casa Comum, pois Deus quis necessitar da nossa cooperação em seu projeto.
Ainda na Mensagem, Leão XIV escreve que “em várias partes do mundo, já é evidente que a nossa terra está a cair na ruína. Por todo o lado, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, a desigualdade e a ganância provocam o desflorestamento, a poluição, a perda de biodiversidade. Os fenômenos naturais extremos, causados pelas alterações climáticas provocadas pelo homem, estão a aumentar de intensidade e frequência, sem ter em conta os efeitos, a médio e longo prazo, de devastação humana e ecológica provocada pelos conflitos armados”.
Sementes de um mundo novo, somos chamados a cuidar e guardar a Criação, pois ela é “um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado” (LS 76). Não se trata de uma divinização da terra, como já ensinou o Papa Francisco na Laudato Si, mas compreender que “tudo é carícia de Deus” (LS 84) e que a criação “trata-se da uma contínua revelação do divino” (LS 85). Somos convidados a uma vivência espiritual integrada, comprometida, pois “a espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia” (LS 216).
Neste Tempo da Criação, que possamos rezar pela conscientização dos crimes que se comentem contra a natureza, e contra a própria humanidade, especialmente os mais pobres; que possamos abraçar projetos concretos, propor mudanças e aderir hábitos que visem o cuidado e o respeito pela Casa Comum. Que o Espírito Santo nos conduza a uma verdadeira conversão ecológica e nos dê a graça de lutarmos por uma Ecologia Integral. Assim seja.
Padre Sérgio de Jesus Azevedo, MSC
Diácono Leonardo Henrique Agostinho, MSC